A pesquisadora Zuleide Ramos, do Núcleo de Estudos em Saúde Pública do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (NESP/CEAM/UnB), nos conta em entrevista como foram os 18 anos de participação no Observatório de Recursos Humanos em Saúde (NESP), e como esse trabalho contribuiu para sua trajetória profissional. Relata também os avanços na área dos recursos humanos em saúde a partir dessa rede de pesquisa no Brasil.
Imagem: OPAS/OMS Brasil
Em entrevista, a colaboradora Zuleide nos conta como foi sua atuação profissional e os avanços na área dos Recursos Humanos em Saúde a partir dessa rede de pesquisa
Por Gabriela Lobato
A pesquisadora Zuleide Ramos, do Núcleo de Estudos em Saúde Pública do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (NESP/CEAM/UnB), nos conta em entrevista como foram os 18 anos de participação no Observatório de Recursos Humanos em Saúde (NESP), e como esse trabalho contribuiu para sua trajetória profissional. Relata também os avanços na área dos recursos humanos em saúde a partir dessa rede de pesquisa no Brasil.
Zuleide Ramos é formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo e licenciada em Didática e Metodologia, Filosofia e Psicologia da Educação pela mesma instituição. Possui especialização em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública e em Administração e Planejamento em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas. Foi colaboradora do Núcleo de Estudos em Saúde Pública do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília desde 1994, atuando a partir de 1999 junto ao Observatório de Recursos Humanos em Saúde, criado do âmbito desse núcleo. Atuou no Ministério da Saúde (de 1981 a 1998 e em 2004, nas áreas de Planejamento, Controle Social, Ciência e Tecnologia e Recursos Humanos) e na Secretaria do Bem-Estar Social de São Paulo (de 1970 a 1981, como coordenadora regional e pesquisadora na área social).
Confira a entrevista na íntegra.
Gostaríamos que contasse um pouco sobre sua formação acadêmica e trajetória profissional, e sobre o que te despertou/influenciou para o campo da saúde.
Zuleide Ramos: Minha formação teve um caráter direcionado para os campos educacional, social e filosófico. Esse caráter e a inserção em atividades desenvolvidas no âmbito da própria universidade e junto à então Secretaria do Bem-Estar Social da Prefeitura do Município de São Paulo permitiram a um tempo uma visão e análises mais globais, como de caráter prático, em cima de uma realidade social determinada.
A trajetória profissional se caracterizou inicialmente pela interface das áreas social, de educação e de saúde na realidade municipal. Essa atuação e a interlocução com instituições e personalidades da área de saúde me conduziram a realizar concurso para sanitarista do Ministério da Saúde, em que atuei essencialmente nas áreas de Planejamento e Pesquisa, Participação Social e Recursos Humanos. Estava no Ministério da Saúde quando o NESP foi criado, em 1986, numa articulação multi-institucional, na perspectiva de representar um elo entre academia e serviços.
Em resumo, o que significou para você esses anos de contribuição ao Núcleo de Estudos em Saúde Pública e, mais especificamente, ao Observatório de Recursos Humanos em Saúde, e como esse trabalho contribuiu para sua trajetória profissional?
Zuleide Ramos: A contribuição do NESP permitiu a atuação em áreas de pesquisa aplicadas a situações sob demanda do setor. Um dos carros-chefes do NESP em seu período inicial foi a área de desenvolvimento de recursos humanos para o SUS e também o fomento às reflexões sobre o Texto Constitucional em discussão na Assembleia Constituinte. O clima de reflexões e iniciativas de pesquisas e cursos permanecia quando me situei no NESP. Áreas como Capacitação de Recursos Humanos, Metodologias de Avaliação e Controle Social estiveram presentes na época. A percepção de quanto foi interessante a constituição de equipes multiprofissionais e de diferentes origens institucionais se revelou importante para a manutenção de visões diversas, complementares e facilitadores para a condução dos trabalhos.
A participação e contribuição, a partir de 1999, no ObservaRH do NESP/CEAM/UnB (https://capacidadeshumanas.org/observarh) foi importante porque tal rede intercontinental representou o reconhecimento dessa temática para a qualidade dos serviços de saúde e a relevância da articulação entre as universidades e outras instituições nacionais e internacionais do setor, acentuadamente Ministério e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, de forma direta ou por intermédio de seus colegiados, e Organização Pan-Americana da Saúde. Sob a liderança de Roberto Passos Nogueira, fundador do ObservaRH, muitas iniciativas foram desenvolvidas, em linhas de investigação associadas inicialmente a gestão e regulação do trabalho, ampliando-se posteriormente para saúde da família, práticas alternativas/integrativas de saúde e migração de profissionais de saúde.
A interação com outros pesquisadores e a participação e acompanhamento desses trabalhos foi fundamental para a ampliação de minha visão e aprofundamento de meus conhecimentos. Por outro lado, o caráter desses estudos (local/regional, nacional, internacional) revelou-se contributivo para diversas instituições do setor. Além dessas linhas investigativas, alguns projetos se voltaram para a criação de um Laboratório de Inovação na Gestão do Trabalho na Saúde, iniciativa demandada pelo Ministério da Saúde. Ao avaliar e trazer à tona experiências bem-sucedidas em estados e municípios, facilitou-se o intercâmbio entre instituições e municípios, através de metodologia própria de comunicação organizada pelo ObservaRH e disponibilizada em site gerenciado pela OPAS/OMS (https://apsredes.org/gestao-do-trabalho). A interação com gestores, trabalhadores e pesquisadores revelou-se essencial para que a apropriação dos resultados do conjunto de estudos fosse facilitada.
Alguma linha de pesquisa em específico te motivou nos processos de pesquisa do Observatório?
Zuleide Ramos: A percepção da necessidade de contemplar novos campos de aplicação dos estudos e a percepção de que o RH e a própria Saúde se inserem num contexto mais amplo das sociedades, em que condicionantes sociais e econômicos são importantes, levou à perspectiva de trabalhar na ótica de capacidades humanas, desenvolvimento e políticas públicas. Um observatório e eventos nessa linha foram organizados a partir da experiência da equipe do ObservaRH (https://capacidadeshumanas.org).
Enquanto pesquisadora do ObservaRH, você percebe que existem avanços na área dos recursos humanos em saúde a partir dessa rede de pesquisa, no Brasil?
Zuleide Ramos: Mais recentemente foi desenvolvido o projeto Trajetória institucional das políticas e pesquisas da gestão do trabalho na saúde, constituindo-se importante resgate histórico das ideias e iniciativas nesse campo. Foram realizadas entrevistas com pesquisadores pioneiros da área, secretários da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) e diretores do Departamento de Gestão do Trabalho na Saúde (DEGERTS), além de gestores e representantes dos Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde. O projeto teve como referência orientadora o ano de 2003, data da criação da SGTES, mas procurou recuperar também as contribuições de gestores e pesquisadores de fases anteriores, que remontam ao final dos anos 1970, quando já havia a preocupação com essa temática.
(https://capacidadeshumanas.org/trajetoriainstitucionaldosus).
Os resultados dos estudos e projetos desenvolvidos podem ser visualizados no site correspondente e contaram com a fundamental colaboração de pesquisadores que integraram a base mais permanente do observatório, coordenaram linhas de investigação ou participaram em estudos de caráter mais pontual, todos com importantes contribuições por seu conhecimento, experiência e trajetória. Refiro-me àqueles que, como esta pesquisadora, em algum momento compuseram a equipe de forma mais constante, como Adriana Marques, Carlo Henrique Zanetti, Cláudia Maria Marques, Herton Ellery de Araújo, José Paranaguá de Santana, Roberto Passos Nogueira, Sérgio Francisco Piola, Solon Magalhães Vianna e Valdemar de Almeida Rodrigues.